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Museu de Portimão inaugura exposição inédita “Sardinha - O Sem Fim da Pesca do Cerco”

23-09-25

A exposição “Sardinha – O Sem Fim da Pesca do Cerco” inaugura no Museu de Portimão no dia 4 de outubro, às 16h00, para dar a conhecer “a alma” desta atividade através de um registo documental captado pela lente de Hélder Luís.

Com entrada livre, Portimão será a única cidade do Algarve a acolher esta mostra, naquele que é um retrato íntimo e profundo de uma atividade que marca a identidade portuguesa e que, no passado, foi o motor da economia do concelho.

Neste âmbito, a Confraria Gastronómica da Sardinha de Portimão, com o apoio do Município de Portimão, não quis deixar passar a oportunidade de dar a conhecer este considerável e vasto projeto à comunidade portimonense e aos visitantes do concelho.

Em paralelo, no dia da inauguração, a Confraria Gastronómica da Sardinha divulgará muitas novidades e fará revelações exclusivas que prometem surpreender o público, num evento recheado de emoções e de símbolos da identidade local que não deixarão ninguém indiferente.

Composta por fotografias, textos, infografias e desenhos técnicos, este conjunto diverso de elementos contextualiza e aprofunda o conhecimento sobre a pesca do cerco, uma tradicional forma de captura da sardinha, cuja prática envolve não só conhecimento técnico, mas também uma forte herança cultural e identidade coletiva.

“O verdadeiro desafio foi capturar a alma da atividade — a vida dos pescadores, a força dos elementos naturais e a incerteza constante que definem o dia a dia”, afirma Hélder Luís. Ao longo de quatro anos, o fotógrafo percorreu portos de norte a sul de Portugal e agora dá a conhecer esse olhar sensível e profundo, numa oportunidade única para o público do Algarve.

“Este é o meu contributo para o reconhecimento desses homens que passam muitas noites à procura de um peixe que teima em escapar-lhes e regressam muitas vezes cansados, desanimados e sem sustento para, na noite seguinte, voltarem ao mar e fazerem tudo de novo”, reforça. E se cada leitor ou visitante “conseguir sentir os salpicos da água salgada e as escamas de peixe a voar, um dos objetivos deste projeto estará realizado”, conclui.

A exposição “Sardinha – O Sem Fim da Pesca do Cerco”, promovida pela Confraria Gastronómica de Portimão, com o apoio do Município de Portimão, poderá ser visitada até 23 de novembro, todas as terças-feiras, das 14h30 às 18h00, e de quarta-feira a domingo, das 10h00 às 18h00, encerrando às segundas-feiras e em feriados nacionais.

Imagens captam “essência” da pesca do cerco

Da autoria do fotógrafo Hélder Luís, a exposição “Sardinha – O Sem Fim da Pesca do Cerco”, resulta de um extenso projeto documental desenvolvido durante quatro anos, entre 2018 e 2022. Para este fiel registo, o autor acompanhou de forma inédita e prolongada as tripulações de embarcações de cerco por todo o país, mergulhando na vivência das comunidades piscatórias portuguesas e no seu quotidiano, registando de perto as emoções e a relação destes profissionais com o mar.

Num local de trabalho tão vasto quanto imprevisível, Hélder Luís acompanhou muitas das jornadas dos pescadores e se, no início, julgava que conseguiria concentrar este projeto apenas na zona norte, com o passar do tempo, percebeu que esta é uma atividade que está dependente de múltiplos fatores, sendo um deles a localização da sardinha. Com a espécie a permanecer longas temporadas mais a sul nos últimos anos, boa parte da frota do cerco “migrou” para essas águas, levando muitas vezes a bordo o autor, que passou assim por vários portos de Matosinhos até ao Algarve.

Não foi, porém, a única alteração que fez ao longo do projeto, pois a princípio estava convicto que iria editar “um livro sobre a pesca da sardinha”, mas após as primeiras viagens “ficou claro que a sardinha não chegava para alimentar a fome de peixe durante um ano inteiro”, por isso o tema central passou a ser a pesca do cerco, afirma o autor. E a grande diferença é que, para além dessa espécie, nesta técnica mais abrangente inclui-se também a captura da cavala, do carapau e do biqueirão, sujeita a diferentes regras.

“Só não ia ao mar quando os pescadores ficavam em terra por causa do estado do mar. Quando os barcos estavam por Matosinhos, podia ir ao mar de domingo a quinta-feira sem grandes dificuldades. Se fossem mais para sul, Peniche, Sines ou Algarve, as viagens já exigiam outra preparação. Implicavam fazer planos com os mestres e condensar no tempo o maior número possível de embarques”, relata. Apesar destes contratempos, o resultado foi muito positivo.

Verdade é que o acompanhamento próximo e prolongado desta atividade deram-lhe uma visão mais abrangente sobre a pesca do cerco e as diferentes formas de trabalhar dos pescadores do norte e do resto do país.

Observou, fotografou e filmou várias jornadas de uma atividade que, apesar de monótona, surpreende em cada nova investida no mar, porque os elementos naturais encarregam-se de introduzir “um número assustador de variáveis”. Num ápice, transformam uma simples e rotineira tarefa, num complexo e perigoso desafio. E suportou nesses quatro anos as mesmas condições que os pescadores, o que lhe deu um maior entendimento e novas perspetivas sobre a pesca do cerco. Só assim seria também possível retratar a dureza do trabalho no mar.

Uma atividade rica, mas pouco documentada, onde sobressaem as tripulações e o espírito de camaradagem, que transforma estes homens e as suas famílias numa verdadeira comunidade. E é isso que espera transmitir, primeiro com o livro “Sardinha – O Sem Fim da Pesca do Cerco” e agora com a exposição, com o mesmo nome.

Sobre o autor

Hélder Luís, natural da Póvoa de Varzim, é designer, artista multimédia, músico e fotógrafo. Estudou design gráfico e tipografia e, desde 1996, desenvolve projetos para diversas empresas e instituições. Como artista multimédia e músico experimental apresentou criações individuais e coletivas em Portugal e no estrangeiro, continuando a compor e a editar música.

Dedica-se à exploração da cultura marítima através da fotografia, da instalação e da edição de livros, desde 2018. Investiga a relação profunda entre as comunidades costeiras e o oceano, documentando práticas tradicionais, transformações e memórias coletivas, num trabalho que tem sido apresentado em todo o país e que se afirma como uma reflexão contemporânea sobre o património marítimo.

No seu percurso destacam-se as instalações “MAR”, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves e “Under the Above”, na Solar - Galeria de Arte Cinemática (2018), bem como a residência artística “MARPVZ19/20”, apoiada pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, (2019), da qual resultaram múltiplos projetos documentais e artísticos, nos quais esta mostra apresentada em Portimão se enquadra. No ano passado, apresentou também a instalação sonora “Búzio”, uma reflexão sobre a memória e a relação do povo com o mar.

Em matéria editorial, Hélder Luís publicou o livro de fotografia “Atlântico” (julho de 2029), “Na língua da maré”, juntamente com Abel Coentrão para a cooperativa de seguros de pesca Mútua dos Pescadores (2022), “Sardinha” (2023), que, até à data, é o seu maior projeto de fotografia documental sobre cultura marítima, e “Rumo à Pesca” (2024).